O
vinho nacional remete imediatamente às vinícolas das serras
gaúchas, onde se encontram os maiores centros de produção.
Mas é em São Paulo, para onde veio grande parte dos europeus
que chegaram ao Brasil, principalmente portugueses e italianos,
que o vinho é mais apreciado. Aqui se toma cerca de 30%
do vinho consumido no Brasil. Mas o Estado não se distingue
pela produção de bons vinhos, tanto pela inadequação dos
vinhedos como pela precariedade dos meios de produção –
ou pela conjugação desses fatores. Com o objetivo de contribuir
para a revitalização da vitivinicultura paulista, da produção
da uva à obtenção de vinhos de qualidade, a Universidade
– com realização do Grupo Vitivini da Unicamp e apoio da
Cori, da FEA e da Feagri – promove o III Simpósio em Pesquisa
e Desenvolvimento em Vitivinicultura no Estado de São Paulo,
que conta com ações conjuntas de secretarias de governo,
institutos de pesquisas, universidades, agências de fomento
à pesquisa e ao desenvolvimento, Fiesp, instituições financeiras,
prefeituras e iniciativa privada.
O evento, que se realiza no dia 27 de novembro, no Centro
de Convenções do campus de Campinas, visa reunir pesquisadores,
produtores, técnicos, enófilos, representantes de cooperativas,
entre outros, com o objetivo de colocar o conhecimento gerado
por universidades e institutos de pesquisa à disposição
do setor produtivo, de modo a acelerar o seu desenvolvimento
e contribuir para o aumento do nível de emprego no Estado
de São Paulo. O propósito é colaborar com o projeto do governo
paulista que visa o fortalecimento da cadeia produtiva do
vinho e facilitar o acesso do vitivinicultor a novas tecnologias
relacionadas à seleção de variedades de uvas viníferas mais
adequadas ao clima, técnicas de plantio, manutenção, colheita
e modernização dos processos de produção.
O organizador do simpósio, professor Claudio Luiz Messias,
engenheiro agrônomo de formação e professor colaborador
da Feagri, afirma que a iniciativa visa trazer informação
para que o produtor possa trabalhar com segurança, conhecimento
e eficiência. “É a oportunidade para que o agricultor ouça
pesquisadores e técnicos especializados em vitivinicultura,
que abordarão os critérios que devem orientar a formação
do vinhedo, colheita, métodos alternativos de manejo, como
por exemplo, o cultivo com colheita na época do inverno,
em que a umidade é menor, a ventilação maior e a temperatura
mais baixa. São condições que contribuem para diminuição
da proliferação de fungos e doenças e favorecem a obtenção
de produtos de melhor qualidade”.
Segundo Messias, o foco é a qualidade, pois uvas sadias
na vinificação necessitam de menores doses de produtos químicos
conservantes, principalmente quando se trata da produção
orgânica ou biodinâmica do vinho. “Na Feagri, por exemplo,
projeto em pós-colheita está avaliando o emprego da luz
ultravioleta-C como inibidor da proliferação microbiana.
Sua ação eleva, no vinho, a concentração de resveratrol,
cujos benefícios são reconhecidos na literatura médica.
É sabido, por exemplo, que ele funciona como elemento protetor
do sistema cardiovascular e na longevidade”
O pesquisador enfatiza que, como o simpósio visa estimular
ações que levem à produção de vinhedos e vinhos de qualidade
em São Paulo, o primeiro encontro, em 2006, concentrou-se
em informações sobre a fisiologia da uva, como plantá-la
e formar vinhedos. O segundo, em 2007, se ateve mais à produção
de uva e avaliação de vinhos produzidos em São Paulo com
uvas locais. Realizou-se assim o I Painel do Vinho Paulista,
em que foram avaliados 25 vinhos, em degustação às cegas,
por enólogos, enogastronomistas e técnicos especializados
na sua produção. Foi a oportunidade, diz ele, dos produtores
se conscientizarem de que os vinhos produzidos em São Paulo
precisavam melhorar. Como a proposta é de que o Painel se
repita a cada dois anos, o próximo está previsto para 2009.
No
terceiro simpósio (veja programação), as informações vão
se concentrar principalmente na tecnologia da produção do
vinho. Painéis possibilitarão aos produtores apresentar
resultados obtidos, mostrar novas introduções de vinhedos
de variedades européias para a produção de vinhos finos
e compartilhar experiências com seus pares, pesquisadores
e comunidade. Com esta nova dinâmica de ação participativa,
pretende-se incentivar produtores e empreendedores paulistas,
por meio de exemplos bem-sucedidos, mostrando que a tecnologia
permite produzir uva e vinho em regiões e climas os mais
diversos. A propósito, Messias destaca as palestras “Dança
das mudanças”, vislumbrando nova cartografia vitivinícola
mundial, frente ao aquecimento global”; “Novas áreas vitivinícolas
em Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul”; “Vinhos
de qualidade: uma construção feita com uvas, tecnologia
e arte”; “Vinhedos e vinhos do Vale do São Francisco: sua
história e realidade atual”, entre outras que exemplificam
como a biotecnologia é fundamental para a produção vitivinícola.
O evento se encerra com uma degustação didática de vinhos.
Messias constata que o Estado de São Paulo apresenta condições
agronômicas, tecnológicas e mercadológicas para forte desenvolvimento
dessa atividade. Para a introdução de novos vinhedos ou
reforma de vinhedos existentes, em que estão sendo valorizadas
as uvas européias Vitis vinifera e híbridos, toda a cadeia
produtiva da vitivinicultura paulista vem sendo avaliada
de forma censitiva, em projeto apoiado pela Fapesp em Políticas
Públicas, do qual a Unicamp participa ativamente.
Ações
O professor Claudio Luiz Messias enfatiza que o objetivo
maior do grupo Vitivini/Unicamp tem sido promover iniciativas
que impulsionem efetivamente ações por parte dos produtores,
possibilitando que o conhecimento acadêmico e técnico leve
à melhora da vitivinicultura regional e ao seu conseqüente
desenvolvimento econômico e social com sustentabilidade.
É nessa direção que se situa o III Ciclo de Palestras de
Tecnologia em Vitivinicultura no Estado de São Paulo, organizado
pela Pós-Graduação/Feagri. Nele, se deu ênfase à introdução
de novos vinhedos, enfocando a importância da associação
de técnicas agronômicas e conservacionistas com as técnicas
da agricultura de precisão. Considerou-se que as informações
agronômicas associadas a um gerador de dados permitem a
otimização de recursos nas fases de fertilização do solo,
controle fitossanitário, disponibilidade de água, irrigação,
clima, e colheita. Abordou-se a importância da valorização
da maturação e do ponto de colheita para os diferentes usos
da uva.
O pesquisador lembra ainda que “em nível de Extensão oferecemos
juntamente com pesquisadores da Universidade Nacional de
Cuyo – Mendoza – Argentina, Feagri e Fea, o primeiro curso
de formação para a vinificação em tinto. Dois outros estão
programados para o ano, vinificação em branco e produção
de espumantes”.