4/11/2008
– Os condomínios e as favelas de Campinas e as habitações
na Tunísia foram tema na primeira mesa-redonda do 6º Encontro
Internacional Saber Urbano e Linguagem, segunda-feira (3),
no Salão Vermelho da Prefeitura de Campinas. A mesa “As
políticas públicas e as (re)divisões do espaço urbano” foi
realizada pelo programa “Pensando a Cidade”, no qual se
discutem questões de políticas públicas e redivisões do
espaço urbano com a participação da população em geral.
A professora Eni Puccinelli Orlandi, coordenadora do Laboratório
de Estudos Urbanos da Unicamp, falou sobre o surgimento
dos condomínios fechados, que, na sua opinião, acabam se
configurando como uma violência simbólica. Desde o início,
se considerava que as pessoas que não fazem parte do grupo
são estranhas, mas elas podem ser sócios ou inimigos. “Não
se pode ter laços sociais na medida em que se faz muros
que separam as pessoas em grupo”, acrescentou. O condomínio,
na sua visão, é um mito de segurança, a partir do momento
que torna mais hostis os que ficam do lado de fora. Ela
enfatiza que com a construção de condomínios, o número de
roubos caiu, mas o número de latrocínios aumentou. “A violência
é maior, separando e afrouxando laços sociais. É uma falsa
medida de segurança”.
Eni falou também sobre outro projeto no qual aborda o espaço
urbano a partir da favela. “A favela também é um espaço
fechado, mas com outra maneira de organização. Tem uma letra
em que o rapper diz: ‘Eu vivo na favela; eu vivo em vielas’”.
Pensando na questão de sentir-se em casa, Eni acrescentou
que trabalha com a relação entre casa e rua, estudando os
diferentes sentidos que podem ter rua e casa para os diferentes
sujeitos que vivem na sociedade. “O espaço é o lugar em
que se habita, onde tem sujeito vivendo e se significando
e sendo significado neste espaço”, acrescentou.
A divisão de espaço não é uma preocupação só de pesquisadores
brasileiros. Representante do Centro de Estudos e Pesquisas
Econômicas (Ceres) da Tunísia na mesa-redonda, Saïd Mosbah
falou sobre a manifestação de conflitos quando famílias
abrigadas na Medina e Tunes foram realocadas para outro
bairro distante da Medina, dentro de um programa habitacional
do governo.
Nas antigas habitações, segundo Mosbah, pelo menos quatro
famílias, sem vínculo, viviam em habitações com dois ou
três quartos, porém, ao serem realocadas para casas com
42 metros quadrados ou apartamentos de 25 metros quadrados,
tiveram de conviver com a não-aceitação de moradores antigos
do bairro para o qual foram levadas. “Rapidamente, o bairro
se tornou protótipo da delinqüência juvenil e da criminalidade”.
Estudo feito pelo Ceres, segundo ele, revelou a insatisfação
das pessoas por meio de entrevistas e da repercussão na
imprensa. “Lá vivíamos mais unidos. Éramos como uma família.
Aqui, nos olham com preconceito.”
(Maria Alice da Cruz)