Unicamp
e a Immunoassay, empresa de material hospitalar e laboratorial,
firmaram um contrato para a exploração comercial de uma
tecnologia de exame parasitológico de fezes desenvolvida
na Universidade. A invenção pode contribuir para o combate
de um dos problemas mais freqüentes da saúde humana, as
parasitoses intestinais no homem, que são ainda altamente
prevalentes no mundo, principalmente em regiões tropicais.
Segundo estimativas, o problema pode atingir um terço da
população mundial.
A empresa deu o nome de TF-Test (Three Fecal Test) para
o produto oriundo da tecnologia, que já tem pedido de patente
nacional e internacional, através do PCT (Patent Cooperation
Treaty). O TF-Test já está sendo produzido e distribuído
para vários hospitais e laboratórios de análises clínicas,
entre os quais Hospital Albert Einstein, Hospital das Clínicas
da USP e Fiocruz.
Jancarlo Ferreira Gomes, pesquisador do Instituto de Computação
(IC) e do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp, juntamente
com Luiz Cândido de Souza Dias, professor aposentado da
Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM) e Sumie Hoshino
Shimizu, professora aposentada da Universidade de São Paulo,
formam o grupo que desenvolveu o TF-Test, com apoio da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por
meio do programa Pesquisa Inovativa na Pequena e Micro Empresa
(PIPE).
O produto final inclui um kit para o paciente, constituído
por três tubos ou um tubo coletor-usuário, e um kit para
o laboratório, constituído por um tubo de centrifugação
e um conjunto de filtros contendo duas telas metálicas.
Gomes explica que a pesquisa levou cerca de três anos para
ser concluída, mas os resultados são inovadores, pois o
TF-Test é abrangente para todas as espécies parasitárias
(Helmintos e Protozoários), podendo substituir as técnicas
convencionais e kits comerciais com diversas vantagens.
“O que nos levou ao desenvolvimento da tecnologia foi a
baixa e média sensibilidade diagnóstica apresentada pelas
técnicas convencionais para o exame parasitológico de fezes
que variam, em média, de 48,3% a 75,9%”, explica Gomes.
Segundo o pesquisador, em grande parte, as técnicas empregadas
em rotinas laboratoriais para os exames de fezes têm mais
de dez anos e não acompanharam, com o passar dos anos, a
adaptação do parasito em relação ao hospedeiro, vindo a
repercutir em baixa e média sensibilidade diagnóstica. “A
motivação de nosso grupo de pesquisa foi de tornar o exame
parasitológico de fezes mais sensível, o que foi confirmado
no término do projeto Fapesp”, afirmou. O pesquisador aponta
que, com as técnicas convencionais, o tempo de processamento
é de mais de duas horas desde o preparo do material fecal
coletado até a leitura das lâminas, enquanto que, com o
novo teste, toda a técnica é executada em minutos.
Cláudio Henrique Pires, diretor da Immunoassay, afirma
que a empresa vê grandes oportunidades de mercado pela qualidade
e credibilidade do diagnóstico apresentado pela tecnologia.
Pires explica que, em técnicas convencionais, cada amostra
fecal deve passar por três lâminas para o diagnóstico de
parasitoses através do microscópio. Segundo dados da empresa,
técnicas que empregam apenas uma amostra para a análise
apresentam 48,8% de chances de obter um diagnóstico certo.
Pires relata que, em decorrência deste fator, muitos laboratórios
pedem três amostras, que utilizam nove lâminas para aumentar
a porcentagem de acerto para 96,8%. “Por meio do TF-Test,
esta sensibilidade é atingida com o uso de apenas uma única
lâmina”, coloca Pires.
O
diretor também destaca que as técnicas convencionais apresentam
outros inconvenientes. Entre eles está a coleta e armazenamento
do material de origem fecal a ser analisado. De acordo com
Pires, as amostras coletadas com kit tradicional devem ser
entregues em poucas horas para o laboratório, para não comprometer
a análise. No caso da necessidade de três amostras, o paciente
precisa se deslocar três vezes para o laboratório. Este
inconveniente é reduzido com o teste desenvolvido na Unicamp,
pois seus tubos de coleta contêm conservantes que preservam
a amostra fecal em condições de análise até 30 dias, sem
necessidade de refrigeração. “Caso o exame exija três amostras,
o paciente realiza a coleta em dias alternados em casa.
A partir da última coleta, ele tem até dez dias para entregar
no laboratório”, relata o diretor.
Outro diferencial apontado pela empresa é o de biossegurança
dos técnicos envolvidos na análise, pois o novo teste implica
em pouco manuseio da amostra, aliado ao uso de conservante,
reduzindo os riscos de infecção. Além disso, há o fator
de qualidade do ambiente de trabalho, uma vez que o processo
é totalmente vedado, o que elimina o mau cheiro, enquanto
no processo tradicional é feito por sedimentação por oito
horas. “Todo o material é descartável e não precisa lavar
e nem esterilizar”, coloca. Pires afirma ainda que a troca
pelo novo teste implica em redução de custos para o laboratório.
“Se um laboratório faz 200 análises por dia, a quantidade
de lâminas usadas pode cair para até um terço”, argumenta.
A parceria entre a Unicamp e a Immunoassay será oficializada
na Universidade no próximo dia 13, em cerimônia que contará
com a presença do reitor, professor José Tadeu Jorge, dos
inventores, e da empresa, que fará a apresentação do produto.
A articulação do convênio foi realizada por meio da Agência
de Inovação Inova Unicamp. Giancarlo Ciola, agente de parcerias
da Inova Unicamp, explica que a celebração deste convênio
demonstra como o desenvolvimento de tecnologias passíveis
de comercialização na Universidade pode se reverter em benefícios
diretos para a academia e para a sociedade.
Ciola relata que, através do contrato, a empresa se compromete
a destinar royalties à Universidade, que serão distribuídos
em três partes iguais. “Um terço dos royalties é destinado
aos pesquisadores inventores da tecnologia, um terço vai
para a unidade onde a tecnologia foi desenvolvida e o último
terço é destinado à Reitoria da Unicamp, que pode distribuí-lo
para várias áreas da Universidade”, explica. De acordo com
Ciola, este recurso beneficiará as atividades de ensino
e pesquisa da universidade, estimulando o desenvolvimento
de novas tecnologias.
O agente de parcerias destaca os benefícios que o produto
pode trazer à sociedade. “A parceria com a Immunoassay permitirá
que uma tecnologia inovadora desenvolvida pela universidade
combata um dos problemas mais recorrentes da saúde humana”.
Segundo Ciola, a parceria estabelecida com a empresa poderá
ser estendida para novos desenvolvimentos. “Os pesquisadores
já trabalham na automatização do exame parasitológico de
fezes, que poderá ser feita através de um sistema composto
por técnicas parasitológica e computacional, além de equipamentos.
Esta tecnologia apresenta três pedidos de patentes, sendo
um internacional, aprovado pelo PCT, e dois nacionais”,
informa.