Estudo
do Instituto de Geociências (IG) contemplou a discussão
do planejamento turístico com duas comunidades remanescentes
de quilombos no município paulista de Eldorado, no Vale
do Ribeira. Essas comunidades – Sapatu e André Lopes – estão
situadas na estrada que dá acesso a uma das principais cavernas
abertas à visitação da região, no Parque Estadual Caverna
do Diabo. “A idéia foi pensar em como controlar territorialmente
a interferência sócio-cultural e mesmo física que ocorre
no local, privilegiando o uso comunitário ao uso turístico”,
explica Ivie Nunes de Santana, autora da pesquisa.
O projeto, orientado pela professora Maria Tereza Duarte
Luchiari, envolveu a realização de oficinas de planejamento
comunitário do turismo e integra o trabalho de extensão
comunitária realizado pelo Programa Comunidades Quilombolas
(PCQ) da Unicamp. Em reuniões periódicas, o Programa apresentou,
entre as demandas das comunidades, a necessidade de projetos
na área de turismo e educação ambiental. “Depois de visitar
os locais surgiu a idéia de trabalhar o planejamento, uma
vez que as demandas eram dispersas e diversas. O planejamento
foi trabalhado com base nas demandas iniciais sobre a idéia
comunitária de turismo e no contexto social das comunidades”,
explica.
Os próprios quilombolas traçaram o diagnóstico e estabeleceram
a operacionalização do turismo comunitário. Planejaram o
uso de dois atrativos que são a “Caverna do Diabo” e a “Queda
do Meu Deus”. Participaram de fóruns de discussão sobre
o desenvolvimento do turismo no município e elaboraram propostas
de projetos comunitários. Segundo Ivie, existia muita resistência
em relação às atividades turísticas na região. “Uma reação
natural, visto que se trata de comunidades rurais e pelos
exemplos da região por elas conhecidos, além da própria
experiência com o turismo”, relata a autora da pesquisa.
Os principais receios eram com relação à visitação desordenada,
à mudança dos hábitos comunitários, aos riscos de consumo
de drogas, à prostituição e à invasão de áreas familiares.
As formulações dos grupos reafirmaram, justamente, a manutenção
de práticas através das quais definem sua cultura e demonstraram
que a possibilidade de desenvolvimento turístico dos territórios
não é uma prioridade comunitária. “O turista é visto como
alguém muito diferente dos moradores, e as formas de relacionamento,
ressaltando as diferenças entre o comportamento e as práticas
sociais, foram devidamente discutidas como soluções para
se evitar conflitos”, afirma. (R.C.S.)