planejamento
estratégico de uma empresa não pode, nos dias
atuais, ser desvinculado do seu desenvolvimento tecnológico.
A constatação é do ex-professor da Unicamp
Isaías de Carvalho Macedo, engenheiro mecânico
formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica
(ITA) e que até recentemente ocupava o cargo de gerente
de tecnologia da Coopersucar. De acordo com ele, quem não
perceber esta realidade encontrará muitas dificuldades
num mercado globalizado e cada vez mais competitivo. Macedo
abriu, no último dia 15 de março, a temporada
de seminários promovidos pela Coordenadoria Geral da
Universidade (CGU). O tema abordado pelo especialista foi
Desenvolvimento Tecnológico e Estratégia.
As palestras acontecem sempre às quintas-feiras, a
partir das 11 horas (confira programação nesta
página).
Atualmente,
conforme Macedo, o mundo empresarial encara a tecnologia de
forma diferente de 20 anos atrás. Os dirigentes
compreenderam que gestão e planejamento tecnológico
devem caminhar juntos. Se não for assim, só
restará correr atrás do prejuízo,
explicou. O ex-professor da Unicamp afirmou que alguns aspectos
fundamentais devem ser levados em consideração
no momento de formular a estratégia de desenvolvimento.
O primeiro deles é o fator externo, que compreende
os assuntos ligados às áreas econômica,
legal e ambiental.
Também é preciso compreender, segundo Macedo,
que a disponibilidade ou a possibilidade do domínio
de determinada tecnologia influencia diretamente no estabelecimento
da estratégia empresarial. Para exemplificar como é
possível congregar todos esses elementos, o professor
falou da sua experiência de aproximadamente 20 anos
à frente do Centro de Tecnologia da Coopersucar, unidade
que ajudou a instalar. A agroindústria da cana-de-açúcar
no Brasil, esclareceu o especialista, tem uma produção
anual de 300 milhões de toneladas, o que equivale a
25% do que é gerado no mundo. Metade desse volume vai
para a produção de etanol (álcool) e
a outra metade para a de açúcar.
Sucesso
em números O setor conta com 308 unidades
industriais, responsáveis pelo cultivo de 5 milhões
de hectares, algo em torno de 1,5% das terras agriculturáveis
do Brasil. Além disso, também é responsável
pela geração de cerca de 1 milhão de
empregos diretos. Só para se ter uma idéia do
mercado consumidor, basta saber que a produção
do setor cresceu, em média, 10% ao ano durante cinco
anos seguidos. Além disso, o mercado consumidor de
açúcar cresce 1,5% ao ano, independente da competição
exercida pelos produtos dietéticos. Todos esses números
ajudam a compreender como o desenvolvimento tecnológico
influencia no planejamento estratégico de uma empresa
ou de um segmento industrial inteiro. De acordo com o professor
Macedo, entre 1975 e 1990, os produtos da agroindústria
da cana-de-açúcar tinham todas as suas fases
controladas pelo governo federal.
Do
preço à cota de produção, do percentual
de mistura do etanol na gasolina à exportação
da produção excedente, tudo era ditado por Brasília.
Nesse período, mais precisamente entre 80 a 85, o setor
viveu a fase do Proálcool, programa que reduziu as
taxas de juros e ampliou os investimentos. A desregulamentação
só ocorreu a partir de 1990. Sem o controle estatal,
a agroindústria da cana-de-açúcar experimentou
alguns avanços importantes, sustentou o ex-professor
da Unicamp. Entre eles está a redução
dos níveis de poluição, obtida por meio
da adoção de uma legislação séria
e do emprego de novas tecnologias.
Mas a
preocupação do setor com o desenvolvimento tecnológico,
ressaltou Macedo, antecede à desregulamentação.
Para atender às necessidades do mercado, a agroindústria
da cana-de-açúcar teve que cumprir três
condições básicas. A primeira dizia respeito
à capacidade de produção, levando em
conta as variedades das plantas. Também foi preciso
equacionar as questões ligadas à qualidade do
etanol e à logística, aqui entendida como abastecimento.
Assim, em 1970, especialistas do Instituto Agronômico
de Campinas (IAC) e do agora extinto Instituto do Açúcar
e do Álcool (IAA) já trabalhavam com o melhoramento
genético da cana-de-açúcar, inclusive
com a produção de clones. Graças a esse
trabalho, foram obtidas variedades mais produtivas e mais
resistentes às praças.
Tecnologia
australiana Em 1973, a capacidade industrial das
usinas foi ampliada com o incremento de moendas que utilizavam
tecnologia australiana. Dez anos depois, o Brasil desenvolveu
um sistema de moagem próprio, que veio a transformar-se
no mais produtivo do mundo. Entre 1980 e 1990, o setor iniciou
o emprego de tecnologias para a redução dos
custos de produção, iniciativa que foi consolidada
na década seguinte.
O uso
de melhores variedades de plantas, a seleção
de terras, a definição de novas especificações
para a adubação, o aprimoramento do corte, do
carregamento e do transporte da cana, associados ao gerenciamento
técnico de todas as fases de produção,
permitiram que o setor alcançasse o atual índice
de desenvolvimento.
Na atualidade,
o segmento trabalha em novos projetos, como a redução
de perdas na fabricação de açúcar,
a auto-suficiência energética, a melhoria da
qualidade do açúcar e a diversificação
da produção, principalmente por meio do aproveitamento
do bagaço e da palha da cana.
Esses subprodutos podem ser aproveitados na produção
de energia elétrica, de etanol e de celulose. Diante
de todos esses resultados e das possibilidades que a agroindústria
da cana-de-açúcar ainda tem, é que o
ex-gerente de tecnologia da Coopersucar reforça a sua
convicção de que não há como dissociar
o planejamento estratégico de uma empresa do seu desenvolvimento
tecnológico, que pode ser próprio ou contratado.
Além disso, também é preciso estar
atento ao que ocorre fora do País, para que não
sejamos surpreendidos. A busca por fontes de informação
tem que ser constante, aconselhou Macedo.