americano
Richard M. Stallman, fundador do movimento GNU/Linux, é
um dos mais ferrenhos defensores do software livre. Sua passagem
pela Unicamp, no início de março, mostrou que
seu carisma ultrapassa fronteiras. Existe sempre muita expectativa
em ouvi-lo, apesar de vir ao Brasil com freqüência.
São 17 anos lutando para assegurar às pessoas
o direito de desenvolver novos softwares livres e, principalmente,
de ter acesso a eles.
Ultimamente,
Stallman se dedica mais a palestras e participações
em congressos. Sua exposição, no Centro de Convenções
da Universidade lotado, durou duas horas. Na sessão
de perguntas, um interlocutor disse ter ouvido críticas
de que você não desenvolve mais nada. Ele
admitiu que não encontra mais tempo para programar.
Segundo o americano, escrever softwares livres é uma
tarefa que hoje vem sendo executada por mais de 100 mil pessoas
no mundo.
Não
é mais necessário que eu escreva. Não
sou bom como antes, declara com modéstia. Ele
considera mais importante divulgar a filosofia do software
livre, como tem feito, viajando pelos países. Ao contrário
de quando o movimento começou, com ele e mais alguns
poucos, atualmente existem milhares de pessoas desenvolvendo
programas, muitos deles sendo pagos para isso.
Velhos
tempos Stallman gastou boa parte da palestra para
relembrar o tempo em que era um dos integrantes do grupo de
hackers do Laboratório de Inteligência Artificial
do MIT. Formado em Física pela Universidade de Harvard
(EUA), usava uma velha impressora para colocar no papel as
programações que realizava na época.
Com a tal impressora, não havia problemas. Qualquer
defeito era resolvido na hora, mexendo aqui e ali. Ele conhecia
em detalhes seu funcionamento e códigos.
Bastou
a impressora tornar-se inoperante e chegar uma outra nova
para que a dor de cabeça de Stallman começasse.
Ele pediu ao fabricante os códigos-fonte do equipamento
e a solicitação foi negada. Indignado, passou
a pensar numa forma de tornar acessíveis os programas
e códigos guardados a sete chaves pelos proprietários.
Surgiu, então, a idéia do software livre, que
vem ganhando corpo a cada dia.
Leis
sobre patentes Não conheço
as leis do Brasil sobre patentes, mas elas devem ser combatidas,
criticou Richard Stallman. E deu como exemplo a pressão
sobre os brasileiros para que assinem leis de interesse americano
e que protegem o acesso a DVD e outras mídias encriptadas.
Elas não devem ser assinadas. São estúpidas,
acusou, criticando as novas leis americanas para informática
e chegando a compará-las com aquelas que eram praticadas
na União Soviética.
Stallman teve seu momento de glória ao final da palestra,
num ritual que repete em cada lugar por onde passa. Vou
apresentar meu alter ego, disse, levantando-se da cadeira.
Eu sou Santo Ignucius e abençôo seu computador,
meu filho. Abençôo, exorcizando os softwares
proprietários dele, finalizou, caracterizado
com uma capa preta e um disco de computador adaptado a um
chapéu.
A palestra
de Richard Stallman foi organizada pela Unicamp, por meio
da Coordenadoria de Relações Institucionais
e Internacionais (Cori), e pela Informática de Municípios
Associados (IMA), órgão da Prefeitura de Campinas.