P-
Em que medida o II Seminário Brasileiro da Nova Economia
Institucional debateu questões interdisciplinares inseridas
no cenário econômico?
Walter Belik -Ele se alinhou com que o que está
sendo discutido no exterior em relação às
novas tendências de abordagem no campo da economia.
Hoje a economia não pode ser vista mais como um campo
de conhecimento isolado.
A economia está se aproximando cada vez mais de outros
campos de conhecimento, como a sociologia, direito, administração
de empresa e antropologia, entre outros. O objetivo da nova
economia institucional é conseguir juntar contribuições
dessas áreas para entender o papel das instituições
e discutir como ela contribui para o desenvolvimento econômico
de um país. Nós trouxemos alguns pesquisadores
do exterior que apresentaram trabalhos nessa área.
Trata-se de um leque bastante grande, que foi desde as discussões
macroeconômicas sobre desenvolvimento econômico,
pobreza e crescimento - até questões microeconômicas,
como relações entre agentes, questões
de contratos, privatizações, sistemas de franquias,
sistemas de distribuição, relação
fornecedor/processador etc, além de uma série
de assuntos que dizem respeito ao dia a dia das empresas e
dos agentes econômicos.
P-
Como a nova economia institucional vê a questão
da pobreza?
R - A pobreza é discutida dentro de uma nova
abordagem. A economia convencional trabalha a questão
como se ela fosse uma falta de oportunidades, como se todos
os agentes chegam ao mercado com as mesmas condições
e que, depois disso, algumas pessoas acabam perdendo espaço.
A visão que se tem da economia institucional sobre
a pobreza é a de que a sociedade não criou mecanismos
suficientemente bons para poder distribuir a riqueza de uma
forma mais equitativa. A economia institucional tenta entender
e traduzir o papel das instituições de direito
- o sistema tributário, o sistema de crédito,
o sistema educacional. E, também, como esses mecanismos
podem promover uma sociedade mais justa. A pobreza tem de
ser vista dentro da ótica da transformação
ou aperfeiçoamento dessas instituições.
Se você tem instituições que promovam
a desigualdade, você tem que repensar o seu papel. A
universidade é um exemplo. Da forma como está
implantada, ela é naturalmente um filtro. Esse modelo
precisa ser rediscutido enquanto alavanca de promoção
social. Os sistemas de crédito e de saúde também.
Da forma elitizada e excludente como estão montados,
acabam só agravando o problema.
P
- Quais os aspectos da privatização que a nova
economia institucional considera relevantes em seus estudos?
R - A privatização precisa ser discutida
levando-se em conta um complexo sistema de incentivos que
possa permitir que essa nova empresa privatizada garanta acesso
e permita ganhos para o Estado, de uma forma vantajosa em
relação à situação anterior.
Privatizar não é apenas entregar para a iniciativa
privada, mas é permitir que essa nova empresa tenha
um serviço melhor e que o consumidor esteja satisfeito.
Como se monta um sistema de incentivo que permita tudo isso?
É tarifa? Como você controla a tarifa? Como você
controla os novos investimentos que vão ser feitos?
Todas essas questões são extremamente complexas
e levam em conta a modelagem e um instrumental que possa evitar
o oportunismo e o monopólio privado dessas empresas.
P
A produção científica sobre a
nova economia institucional pode ser considerada proporcional
ao interesse que ela desperta?
R - É um assunto de ponta, hoje em dia a os
estudos econômicos estão se voltando muito para
essa área. O volume de produção científica
nessa área é muito grande e ele é ao
mesmo tempo é um campo bastante pragmático da
economia. Ao contrário de outras correntes econômicas,
existe um pluralismo nas contribuições.
Na Unicamp, a gente tem cursos na pós-graduação
que trabalham com a abordagem do institucionalismo. A USP,
por exemplo, criou um curso de pós-graduação
em instituições. Não é um modismo,
mas sim uma nova forma de ver a economia, mais afinada com
a realidade.
P
- Quando a corrente começou a ser difundida? Existe
alguma relação com
a globalização dos mercados?
R - Um trabalho pioneiro sobre economia institucional
data de 1936, mas ela começou a ser debatida mais intensamente
a partir da década de 70. Existe uma relação
muito grande com essa nova situação que nós
estamos vivendo, mesmo porque a globalização
leva a mudanças nas instituições. A forma
de entender o mercado começa a ser diferente. É
o que a gente costuma dizer: o mercado é uma arena
socialmente construída. Junto com a globalização,
veio uma crítica aos que entendem existir um determinismo
histórico de mercado sobre os movimentos da economia.
Como se constróem os mercados? Por que existem certos
procedimentos, normas e rotinas na economia brasileira que
levam a determinados comportamentos? Então, a discussão
sobre globalização está muito presente,
porque interfere em todas essas questões, ao contrário
da economia convencional, ortodoxa, que imaginava que os resultados
econômicos eram decorrentes das forças exercidas
por agentes isolados buscando atender aos seus interesses.
A gente tenta compreender como a sociedade interage. O comportamento
das pessoas é levado por condicionamentos sociais,
seu passado e suas expectativas futuras.
P
- Como esses aspectos são analisados?
R - A globalização, enquanto importação
de comportamentos que deram certo supostamente em outros lugares
para a nossa realidade, tem uma série de problemas.
Esse é o caso das privatizações. Você
não pode dizer que só porque a distribuição
gás é privatizada na Inglaterra, o mesmo vai
dar certo no Brasil. Não podemos importar o mesmo modelo
apenas por causa disso. Então, a globalização
está incentivando estudos desse tipo.
P
Como a economia ortodoxa é vista nesse cenário?
R - Se existe um ponto no qual a concordância
é geral, é o de que esses modelos de ver a economia
da forma convencional, conforme se ensina nos manuais de economia
com as curvas de oferta e demanda e das leis de mercado
que parecem ser divinas não funciona. Isso não
explica nada, precisamos mudar a forma de abordar a economia.
A nova economia institucional atua buscando formas de aperfeiçoar
o entendimento da realidade, olhando como funcionam as relações
de uma forma mais abrangente.