Cecília
dos Santos, de 15 anos, aluna da 8ª série da Escola
Barão de Ataliba Nogueira, em Campinas, endossa as
constatações da pesquisadora e pedagoga Maria
Inez Massaro Alves. A estudante vê a novela Malhação
há mais de um ano e tem roupas compradas depois de
observar o que vestem as personagens Bia e Joana, interpretadas
pelas atrizes Fernanda Nobre e Ludmila Dayer.
A
adolescente também acha legal o comportamento
dos namorados Joana e Marcelo o ator Fábio Azevedo
, galã e jogador de watterpolo. O casal
se preza pela fidelidade, conversa sobre os problemas. O que
considero bom na novela, tomo como exemplo, admite a
adolescente.
Malhação
não está presente na vida da estudante somente
pelas cenas de namoro ou por causa dos meninos sarados.
No início deste ano, um dos trabalhos exigidos em sua
escola foi sobre homossexualismo. A novela abordou o tema
recentemente e serviu como fonte de estudo. Achei muito
interessante o trabalho. Pessoalmente sou contra qualquer
discriminação, afirma.
Segundo
Cecília, a maior parte das colegas de classe vê
Malhação. Coincidência ou não,
começou a namorar depois que passou a acompanhar a
novela. Só perde a trama quando tem compromissos urgentes,
mas se diz consciente de que nem tudo o que se vê na
televisão pode ser adaptado à realidade. Sei
que quase tudo é coisa de novela.
Mar
de rosas Liliane de Souza, 16 anos, cursa o 2º
ano do ensino médio e também vê Malhação,
mas com um olhar crítico. Eles (personagens)
estão fora da realidade. Na novela todo mundo é
bonito, perfeito, sarado. Ninguém tem problemas
e a vida não é assim, pondera.
Para
a adolescente, a novela influencia negativamente os jovens.
Não é o meu caso, mas admito que tem muita
gente que copia, diz Liliane. Questionada por que, então,
vê a trama, ela comenta: Na televisão aberta
a gente não tem o direito de escolher. Vê o que
passa. São poucos os canais. O mesmo, segundo
a estudante, não acontece com jovens das classes mais
favorecidas, que têm a opção dos canais
pagos, que oferecem variedade maior.
Frustração
A pedagoga Maria Inez Masaro Alves adverte que um dos
maiores problemas de quem se espelha apenas na ficção,
moldando a partir dela a vida real, é justamente o
empobrecimento da experiência, que provoca a frustração.
O adolescente passa a ver que sua família não
se comporta como a da telenovela, que seus pais não
são tão esclarecidos, não tratam dos
problemas do mesmo modo e, muito menos, que no final tudo
dá certo, afirma. Pecado maior comete o jovem
ao se espelhar na novela para conquistar um namorado. A
experiência, neste caso, não é a real,
mas a da ficção, finaliza a pesquisadora.