CÉLIA
PIGLIONE e
RAQUEL
DO CARMO SANTOS
um
corpo de baile, cada integrante representa um instrumento
musical, cujo som se reproduz a partir dos movimentos executados
por esse bailarino. Uma harmoniosa interação
homem-instrumento, coordenada por um pequeno robô. Pode
parecer algo futurista, mas os primeiros ensaios deste bailado
já acontecem. O Núcleo Interdisciplinar de Comunicação
Sonora (NICS) da Unicamp, em conjunto com o Laboratório
de Neuroinformática da Universidade ETHZ Zurique (Suíça),
convidou a bailarina Christiane Matallo, pós-graduanda
do Instituto de Artes, para realizar uma performance inusitada:
calçando sapatos estilo tap shoes interativos, seus
movimentos comandavam diferentes estilos musicais e, para
surpresa do público, teve como parceiro um robô
que também gerava sons ao contato com a luz e materiais
coloridos o Roboser.
Vestindo
roupas pretas bordadas com argolas de latas de refrigerante,
Christiane conseguiu um efeito virtual em sua apresentação
no Ginásio Multidisciplinar da Unicamp, no dia 29 de
março, durante o 2o Encontro da Coordenadoria de Centros
e Núcleos (Cocen) da Unicamp. O evento mostrou a produção
científica, tecnológica e cultural dos 24 órgãos
interdisciplinares de pesquisa da Universidade, por meio de
conferências e estandes, num dos quais a bailarina e
também pesquisadora do Nics fez a sua performance.
No comando do espetáculo estavam o coordenador do núcleo,
Jônatas Manzolli, e o pesquisador suiço Paul
Verschure.
A platéia
extasiada, estava atenta aos comandos dos três pesquisadores.
Enquanto Verschure controlava o software específico
para o funcionamento do Roboser, Manzolli manipulava a mesa
que executava a interface com os sapatos calçados por
Christiane. A bailarina executava seus movimentos em sintonia
com a música produzida pelo robô. Eram reproduzidos
diferentes ritmos musicais. Esta interação virtual
dá maior dimensão à perfomance, pois
segundo a bailarina amplia a expressão humana e exige
mais concentração. Por outro lado, os movimentos
são mais livres e ritmados.
Os primeiros
acordes A matemática aplicada e a música,
embora áreas distintas, têm caminhado juntas
na formação acadêmica de Jônatas
Manzolli, que concentra suas pesquisas em modelos matemáticos
aplicados à composição algorítmica,
síntese sonora digital, desenvolvimento de sistemas
interativos e interfaces gestuais. Após um árduo
trabalho que começou em 1998 com o desenvolvimento
do Laboratório de Interfaces Gestuais, Manzolli precisava
encontrar um profissional de artes corporais que tivesse habilidades
necessárias para a implementação do projeto.
Na época, Christiane Matallo havia concluído
a graduação na Unicamp e aceitou o desafio.
Bailarina
desde a infância, não demorou para que Christiane
interagisse com a nova interface. Nos calcanhares e nas pontas
do calçado, Manzolli acoplou sensores que, ao movimento
humano, produzem sinais elétricos e os processa por
um programa de computador. A comunicação entre
os sapatos e o computador é feita através de
um cabo que sai do calcanhar e, preso à cintura, chega
até o equipamento. Nele, um programa específico
chamado CurvaSom, desenvolvido pelo pesquisador do Nics, apresenta
opções de escolha por diferentes instrumentos
musicais e padrões rítmicos associados aos sinais
elétricos. A composição musical, então,
resulta da harmonia entre os movimentos da bailarina no contato
com os sensores.
Especialista
em neuroinformática e criador do sistema IQR421 que
se acopla ao robô e tem sido utilizado com sucesso em
performances multimídias no Brasil e no exterior, Paul
Verschure incentivou a idéia de unir a dança
virtual com o Roboser. Este é uma aplicação
de robótica à composição algorítmica
na qual um pequeno robô gera as seqüências
melódicas através de sensores infra-vermelhos
que se localizam ao redor de seu corpo circular. Ao movimentar-se,
mede a variação de luz e a proximidade de obstáculos:
na presença de intensidade luminosa, aproxima-se da
fonte de luz; na aproximação com obstáculos,
afasta-se deles.
A
combinação de estímulo e movimento no
robô modifica o padrão sonoro executado ao vivo
pelo computador, a quem ele se interliga por fios elétricos.
A sucessão de eventos musicais gera uma pequena
improvisação que reflete a exploração
do meio ambiente feita pelo Roboser, explica Manzolli.
Para os ouvintes foi uma experiência inusitada. Para
os pesquisadores uma realização musical que
uniu recursos de última geração derivados
da neuroinformática com a expressão humana.